Durante a etapa inicial de projeto em Arquitetura, é fundamental que arquitetos encontrem a melhor forma de transmitir suas ideias à seus clientes, de modo que independentemente de seu conhecimento técnico, estes sejam capazes de entender suas propostas com clareza. Nesse sentido, é comum que profissionais apoiem-se sobre uma determinada ferramenta ou conjunto delas para representar o que a priori idealizaram mentalmente, seja através de desenhos bidimensionais, modelos físicos ou imagens perspectivadas, de forma que é justamente nessa última que leigos parecem melhor compreender os conceitos ali expressos, de tal maneira que arquitetos tem buscado constantemente adicionar um conjunto de novas abordagens artísticas amparadas pelos recursos da tecnologia.
Todavia, se nos atentamos a linha histórica dos pelo menos últimos dez anos, certamente iremos perceber que o boom provocado pelo desenvolvimento de softwares e programas de renderização cada vez mais sofisicados levou, ou tem "seduzido" profissionais a criar imagens hiperrealistas, capaz de confundir o irreal a noção de realidade, alavancado pelo esforço comercial em vender o conceito arquitetônico a seus clientes.
Por outra perspectiva, um movimento nostálgico parece emergir em termos de representação e arquitetos de diferentes regiões do mundo tem ressignificado o tradicional processo de colagem arquitetônica, tipicamente utilizado durante meados dos anos 60 e 70 por diversos arquitetos modernos, a exemplo de Mies van der Rohe e Lina Bo Bardi. Entretanto, se anteriormente estas eram realizadas a partir de colagens físicas com pedaços de diferentes papéis somado a intervenção de desenhos em caneta nanquim, agora são realizadas num cruzamento entre texturas virtuais e rápidas bases produzidas em softwares de modelagem, apresentando-nos um novo discurso.
Como parte de nosso tema mensal de junho - Visualizações - conversamos com os escritórios, Diagrama Arquitectos, fala e PALMA, para saber suas opiniões a respeito das virtudes do uso desta técnica de representação arquitetônica e como seus clientes reagem a esta abordagem. Leia suas respostas, a seguir.
Diagrama Arquitectos
"Quando começamos a projetar um espaço ou um projeto, geralmente vem à mente um ambiente específico, com um certo tipo de luz, em uma hora precisa do dia, onde os materiais criam o caráter ou a personalidade do espaço. Através de colagens, podemos experimentar essa parte prematura do desenho. Podemos sobrepor um material ao outro, podemos experimentar a intensidade da luz, pensando mais na luz do que no tamanho ou formato da janela. De certa forma, essas colagens são esboços do que queremos fazer, são uma promessa do que o edifício que estamos projetando pode se tornar."
"A colagem também tem a qualidade de que é fácil intervir, é fácil fazer alterações sobre a mesma imagem, ao contrário de uma renderização convencional, na qual você precisa primeiro ter um modelo detalhado e finalizado para aplicar os materiais e começar a fazer os testes, onde o resultado está mais próximo do hiperrealismo do que um exercício de imaginação. A colagem deixa espaço para o espectador completar essa imagem com sua bagagem pessoal. A colagem, ao ter pedaços de outras pinturas populares, evoca lembranças de paisagens ou lugares que já vimos antes.
Com o exercício da colagem é permitida uma sensibilidade para imaginar e representar graficamente os espaços de maneira muito natural, e as ideias existem em um mundo onde as possibilidades ainda são infinitas e podemos testá-las."
"Certa vez, trabalhei com um cliente muito mais velho que eu. Ele tinha 70 anos e eu 20. Quando apresentei o projeto, mostrei as colagens de nossa proposta, nesse caso, era uma adega para uma vinha no México. Ao fundo apareciam as paisagens de Velasco, o famoso pintor mexicano. Vendo a imagem, esse cliente, que sempre foi bastante sério, ficou muito empolgado porque Velasco era seu artista favorito. Começamos a conversar sobre o trabalho dele e depois entramos no projeto. Sua atitude mudou completamente e, a partir dessas imagens, conseguimos estabelecer uma comunicação muito mais honesta e eficiente.
Existem clientes que entendem colagens de primeira instância e outros que não. Suponho que seja uma tarefa tentar ler o ambiente quando você os encontra e se esforçar para tentar descobrir qual linguagem se adapta melhor a cada tipo de cliente. Existem pessoas que são mais fáceis de entender os projetos por meio de plantas, modelos ou imagens. Felizmente, todas essas são ferramentas de comunicação e nós, como arquitetos, podemos usá-las da maneira que melhor nos convém. Isso não significa que um é melhor que o outro, mas que elas se complementam para transmitir uma ideia de forma clara e persuasiva."
Fala
"O nosso atelier usa muitos tipos de representação distintos e cada um serve a determinados objetivos e em limite todos se complementam. A colagem, sobre a qual especificamente recai a pergunta, é uma forma de sermos reais, mas mantendo um limbo até à realidade. Está tudo lá, mas ao mesmo tempo nada é concreto. O espaço e as intenções são legíveis, mas todo o peso da realidade é ignorado. São imagens puras de intenção."
"A colagem garante distância. Ou seja: permite focar a discussão na arquitetura á grande escala e não no pormenor. É um mecanismo de pensamento. A colagem não é ilustração de um projeto já finalizado; é uma ferramenta de processo."
"As pessoas com quem lidamos reagem bem à colagem. Mão sabendo o que esperar de um processo de projeto, aceitam as ferramentas que utilizamos. A percepção é muito direta; até uma criança de 4 anos consegue compreender o que a colagem está a mostrar."
Palma
"Para ser sincero, começamos a usar as colagens porque nossos clientes ficavam solicitando algumas renderizações de seus projetos e éramos péssimos em executá-las... então começamos a experimentar a colagem e achamos realmente divertido, estávamos sempre imaginando cenas diferentes que poderiam acontecer nos projetos que estávamos realizando e a colagem nos deu essa possibilidade."
"Para nós, as colagens são realmente importantes nas primeiras etapas dos projetos, pois permitem dar ao cliente uma prévia do que estamos pensando, algo mais abstrato onde não podemos nos comprometer totalmente com uma ideia e podemos continuar a explorar diferentes questões como materiais, espaços, proporções etc."
"Já tivemos reações diferentes, acredito que depende dos clientes, eles às vezes tem maior em contato com esse lado pictórico da representação de arquitetura e há outros casos em que solicitam representações realistas. Adoramos usá-las para competições, pois são uma ótima maneira de comunicar idéias de maneira mais rápida e também se torna uma maneira mais divertida de fazer isso, o que ajuda quando os jurados não são apenas arquitetos."